O processo organizacional, por mais perfeito que possa
parecer, pode pregar peças.
Quantas vezes elaboramos uma revisão de processo, estudamos
eventuais gaps, realizamos testes operacionais, aprovamos, implantamos e na implementação
acabamos traídos...
Por trás de tudo que fazemos, por trás do mundo que
enxergamos está o “caos”.
Segundo Hesíodo, (poeta oral grego que viveu por volta de
700 a.C.), o Caos foi a primeira divindade a surgir no universo. Segundo a
matemática o caos trata de um sistema dinâmico e não linear que sempre
apresenta resultados imprevisíveis, o que nos leva a inferir que o que realizamos
de forma pragmática, determinística, está sujeito a perturbações que podem
tornar os resultados uma ocorrência do acaso.
No final dos anos 90, eu trabalhava em uma indústria de
autopeças em uma cidade próxima a São Paulo. Estava reunido com o Luiz, nosso
financeiro, eu era o comercial, quando o Abel um colaborador da área de custos
se despediu e partiu. Eram 18:30 horas.
Por volta de 19:30 horas, recebemos uma ligação, de um
policial, informando que o Abel havia sido sequestrado o que muito nos alarmou.
Imediatamente o Luiz providenciou por meio de um amigo diretor do banco o
bloqueio dos cartões e da conta do Abel. Saímos em direção a delegacia e lá
chegando por volta de 20:30 horas fomos informados de que já haviam acionado o grupo
de policiais especializados em sequestros, que tudo o que era possível estava
sendo feito e deveríamos aguardar um contato. Nos contaram que o carro do Abel
havia sido achado sobre um viaduto, no meio da rua com as portas abertas, sem
qualquer vestígio do motorista e nos localizaram por meio de um cartão de
visitas achado no porta luvas.
O tempo passou, foram disponibilizados telefones aguardando
um contato e nada aconteceu.
Por volta de meia noite e meia, fomos informados que o Abel
estava na delegacia e tudo estava bem. Ficamos felizes e fomos procurar
conhecer o que havia na verdade acontecido.
O Abel, saiu da fábrica e se dirigiu para sua aula de inglês
que se iniciaria as 19:00 horas, parando seu carro na vizinhança da escola.
Seu carro foi roubado, os ladrões se dirigiram para o centro
e sobre o viaduto o sistema de segurança do carro bloqueou o comando elétrico.
Os ladrões assustados abandonaram o carro com as portas abertas.
A polícia lá chegando observou a cena e partir das
evidências concluíram tratar-se de um sequestro, acionando desta forma o código
pertinente. O processo a partir daí seguiu o procedimento estabelecido.
O Abel, saindo as 22:00 horas da aula de inglês foi ao local
de seu carro e constatou o roubo, dirigindo-se imediatamente a delegacia. Lá
chegando procurou informar sobre o roubo quando solicitaram a ele que
aguardasse um pouco pois todos estavam envolvidos em um caso de sequestro que
ocorria na cidade.
O tempo passou, por volta de meia noite, cansado de esperar
o Abel procurou o escrivão que o atendeu solicitou seus documentos que para sua
surpresa se viu diante do sequestrado...
Em tese ninguém havia errado. Mas houve o erro.
Trazendo o exemplo para o mundo corporativo, são as
armadilhas as quais nós gestores estamos sujeitos. Com certeza é mais seguro
seguir o procedimento pois em caso de um insucesso a “culpa” é do procedimento.
O conhecimento tácito, a maturidade profissional, a
capacidade de observação desenvolvida, entre outros, permite criar um sistema
que faz a gestão do caos. Um sistema lógico que pode, em cada caso, vir a minimizar
a não linearidade das ocorrências.
Essa competência decorre de nossa dedicação, do entendimento
que temos sobre nosso trabalho, suas nuances e principalmente do acreditarmos
que nada, excetuando a morte, é definitivo, é preciso, portanto, questionarmos,
ainda que por um momento, as coisas mais óbvias.
Questione-se sempre. No limite corra o risco de te ouvir.